Desde o fim da maioria das ditaduras na América Latina, governos de esquerda com discursos populares têm assumido o poder, escolhendo como líderes militantes esquerdistas e revolucionários que representassem a população anteriormente desfavorecida. Na Venezuela, país que possui a maior reserva de petróleo da América Latina, esse tipo de governo encontra como figura máxima o presidente Hugo Chávez e seu discurso popular e anticapitalista que, mesmo com seu governo polêmico repleto de atitudes consideradas antidemocráticas e ditatoriais, está no poder desde 1999.
Durante as décadas de 60 e 70, a economia venezuelana foi sustentada por sua principal “riqueza”: o petróleo. O sistema funcionou bem, principalmente durante a década de 70 (considerada como os anos de ouro para o país), devido ao alto preço do produto. Na década de 1980, porém, os preços do petróleo desabaram, levando a economia da América Latina como um todo a uma grande crise.
Em 1989, Carlos Andrés Pérez assumiu a presidência com a missão de recuperar a economia venezuelana. No entanto, em fevereiro do mesmo ano, Carlos anunciou uma série de medidas de cunho liberal aumentando o preço da gasolina e do gás. Em decorrência disso, ocorreu um levante popular contra a pobreza, a desigualdade social e o neoliberalismo. A manifestação, conhecida como Cararazo, foi duramente reprimida pelo governo, deixando centenas de mortos.
Em 1992, membros do Movimento Revolucionário 200 (MBR) tentaram derrubar o governo através de um golpe militar, mas foram derrotados. No entanto, tornaram-se nacionalmente conhecidos pelo pronunciamento de um dos comandantes do movimento, Hugo Chávez: “Companheiros: infelizmente, neste momento, os objetivos que determinamos para nós mesmos não foram alcançados na capital. Isto é para dizer que nós em Caracas não fomos capazes de tomar o poder. Onde quer que vocês estejam, vocês desempenharam bem seus papéis, mas agora é tempo para repensar; novas possibilidades surgirão novamente e o país será capaz de ter definitivamente um futuro melhor.”
Com os fracassos do governo de Pérez e depois de Rafael Caldera, e com a popularidade que conquistou, Hugo Chávez foi eleito presidente da Venezuela em 1998, com a promessa de promover “uma revolução pacífica e democrática”.
Nos primeiros anos de governo, Hugo Chávez promoveu alterações na constituição que permitiram sua reeleição para o cargo de presidente, embasado na Revolução Bolivariana que nasceu em 1957 como uma decisão do braço armado do partido comunista na Venezuela, e que é a raiz do governo chavista. No cargo desde 1998, o presidente venezuelano permanecerá até 2013, mas poderá ser reeleito novamente já que em 2010 o referendo que permitia a reeleição ilimitada para alguns cargos públicos (incluindo o de presidente) foi aprovado.
Assim como os governos militares durante a década de 60, o governo de Hugo Chávez também aderiu a políticas de censura na Venezuela. Todo o tipo de mídia que contraria os interesses da política implantada vem sendo censurada por ordem do presidente, e essas medidas são vistas como extremas pela política internacional. A preocupação maior é com o fato de que medidas como essas não deveriam ser permitidas em um país que se diz democrático.
Chávez já censurou e até mesmo fechou diversos veículos de comunicação de grande influencia na Venezuela desde que assumiu o poder. Um dos casos de maior repercussão foi quando o governo proibiu a publicação de informações ou imagens que contenham “sangue, armas, terror ou agressão física” em um dos principais jornais do país, o “El Nacional”, depois que o mesmo publicou uma reportagem sobre o aumento da criminalidade na Venezuela. “El Nacional” é um forte crítico do governo de Chávez, e na edição seguinte a sua censura apresentou uma imagem com a tarja de “censurado”.
Mas, não apenas veículos de comunicação, como também séries de TV e novelas são proibidas na Venezuela, como é o caso do desenho americano “Os Simpsons” que foi proibido no país. Além disso, o governo também resolveu fechar os restaurantes McDonald’s, alegando que a rede de fast-food tem problemas nos balanços e no recolhimento de impostos.
A repercussão dessas medidas radicais de Hugo Chávez não é pequena, tendo como ótimo exemplo a cassação da concessão da emissora RCTV (Rádio Carácas Televisão) em 27 de maio de 2007. Muitos foram os protestos – sobretudo de jovens e da classe média – visto que a RCTV era a mais antiga emissora do país e possuía um nítido caráter oposicionista ao governo venezuelano. O Congresso brasileiro foi o primeiro a se manifestar, destoado do silêncio dos outros países latino-americanos. As mídias brasileiras e internacionais ofereceram uma cobertura desproporcional dos protestos contra o fim da concessão, mas, no entanto, nenhum jornal ou TV venezuelana veiculou as manifestações mantendo desinformada a parte mais pobre do povo, que é a base política do governo de Chávez.
Em 29 de abril de 2011, o prêmio por “apreço à liberdade de expressão” foi concedido a Hugo Chávez pela Universidade Nacional de La Plata (UNLP), gerando muita repercussão internacional. Uma das polêmicas seria sobre a dúvida do quanto as relações entre Argentina e Venezuela teriam influenciado no reconhecimento do presidente. A senadora e jornalista Norma Morandini, do partido de oposição Frente Cívica, criticou a concessão do prêmio. "Estão consagrando o desprezo pela imprensa, por mais populares ou queridos que sejam os presidentes". Norma lembra que, como jornalista, Rodolfo Walsh, guerrilheiro a quem o prêmio da UNLP homenageia, questionou o poder e, por isso, não deveriam conceder um prêmio a alguém que pertença ao poder.
Com tantas polêmicas envolvendo seu governo, a permanência de Chávez no poder só foi possível com, principalmente, suas políticas sociais e até algumas políticas econômicas.
As políticas sociais de Chávez podem ser observadas nas missões do governo venezuelano, tais como a Missão Mercal, que nada mais é que um programa de abastecimento alimentar em regiões de extrema pobreza, a Missão Robinson, que foi responsável pela erradicação do analfabetismo na Venezuela, e outras Missões que visam, entre outras coisas, reintegrar ao sistema educativo pessoas que por algum motivo não conseguiram completar os ensinos básico e médico, incentivar o ingresso a universidades, gerar empregos por meio de cooperativas e investir em melhorias na área da saúde e formação de médicos.
Ao aliar estas metas de combate à desigualdade e erradicação da pobreza a políticas econômicas que atacam o neoliberalismo e defendem a estatização de empresas e expropriações para solucionar situações em que o aparelho produtivo foi paralisado ou semiparalisado, Hugo Chávez conseguiu apoio e simpatia de grande parte da população venezuelana mantendo-se em seu cargo com uma aprovação significativa das massas.
Bibliografia
http://www.abertdf.com/site/index.php?/Venezuela/censura-na-venezuela.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hugo_Ch%C3%A1vez
http://www.espacoacademico.com.br/074/74rattner.htm
http://www.abertdf.com/site/index.php?/Venezuela/manifestacao-lembra-um-ano-do-fechamento-de-emissoras-pelo-governo-de-hugo-chavez.html
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/01/438920.shtml
http://www.sep.org.br/artigo/1_congresso/__484_731555379d3d6c52770b262a281d7355.pdf
http://www.pucsp.br/neils/downloads/pdf_19_20/14.pdf
http://f5dahistoria.wordpress.com/2010/12/01/crise-do-neoliberalismo-e-a-ascensao-dos-governos-de-esquerda-na-america-latina/


