O neonazismo corresponde à ideologia nazista revigorada, visto que, no período da Guerra Fria até a queda do socialismo, ela sobreviveu clandestinamente e reapareceu após a Guerra, no momento propiciado pela insegurança geral, influenciando e formando grupos neonazistas.
Alguns estudiosos afirmam que o neonazismo se difere do nazismo por não defender a dicotomia usada pelo nazismo original baseada na discriminação: superioridade/inferioridade racial. O neonazismo se fundamentaria na diferença cultural contida no discurso de segregação dos povos. Tal preceito sustenta a idéia de que cada povo deve manter sua identidade cultural e nacional em seu determinado meio. Assim, o neonazismo defenderia a incompatibilidade entre grupos distintos. A discriminação que era racial agora seria cultural.
Esta nova linha discriminatória chamada de “novo racismo” é baseada na premissa de que “todas as raças e culturas possuem o direito ao desenvolvimento pleno e irrestrito, porém, devem manter-se separadas e independentes, ou mais precisamente, este desenvolvimento deve se dar dentro dos limites bem definidos, no interior da cultura própria a cada uma delas”.
A afirmação de que alguns grupos neonazistas, na década de 80 e começo de 90, se afirmaram sob as condutas do “novo racismo” ao defenderem a volta de imigrantes estrangeiros para seus países, não explicaria os sucessivos assassinatos de negros e homossexuais assumidos por esses movimentos. Nesta conduta, violenta, está clara a presença da intolerância em relação ao outro e da dicotomia superioridade/inferioridade racial.
Diante de tais circunstâncias não se pode dizer que as iniciativas do neonazismo diferem demasiadamente das do nazismo original e que a questão da superioridade racial não existe no seio destes grupos. Eles conservam a segregação cultural, mas também, ao contrário do que alguns historiadores e sociólogos apontam, cultivam a crença na “superioridade racial” e aos símbolos e agentes do nazismo alemão.
A questão cultural ganhou maior notoriedade nos movimentos neonazistas, em virtude da estratégia ideológica empregada por esses grupos para se adaptarem a uma nova realidade econômica, política e cultural do fim do século XX. O judeu de ontem é o imigrante de hoje. Os partidos políticos ligados ao neonazismo – assim como o partido nazista de Hitler - tiveram de entrar no jogo democrático, por isso não soaria bem falar em extermínio. Mesmo assim grupos menos comprometidos com a política propagam o extermínio em relação aos negros, judeus e homossexuais. As gangues na Europa, que em boa parte são filiadas e financiadas por partidos como National Front inglês, têm de modificar seu discurso ao falar publicamente neste assunto.
O mundo não é o mesmo de sessenta anos atrás, o genocídio dos campos de concentração, cada ano que se passa, soa menos violentamente, mas para o bem da democracia, a memória e a história ainda deixam cicatrizes na sociedade moderna, e por isso o discurso nazista de extermínio e superioridade racial não vingaria publicamente.
O que não quer dizer que ele deixou de existir. Ele está nas entrelinhas, diluído na xenofobia, no nacionalismo dos grupos de extrema direita e no discurso de segregação cultural e de superioridade racial dos anos 80 e começo dos 90, que acabou explicitando-se, no final desta década, virtualmente, na internet, aproveitando-se do anonimato possibilitado por essa infovia.
Ao analisar os grupos, movimentos e partidos neonazistas e de extrema-direita nota-se que diferem uns dos outros, sendo uns mais diretamente ligados às premissas nazistas, outros menos. Entretanto, todos, sem exceção, carregam em seu núcleo, de forma nítida ou travestida, uma característica que os liga, política e socialmente, às ideologias e às iniciativas da intolerância nazista. A “velha” ideologia nazi-fascista, a determinada leitura do passado, assim como as propostas para o futuro, constituem-se em pontos de convergência capazes de reunir indivíduos do movimento neonazista em torno de instituições, grupos e publicações.
Há, por exemplo, skinheads neonazistas, que mesclam os ideais de ambas as ideologias visto que são muito parecidos. Há os neonazistas “White Powers”, que acreditam, sobretudo, na supremacia branca, idealizada pelo nazismo. Há grupos na Alemanha que pregam a extrema intolerância a pessoas naturais de países eslavos. No Brasil, um grupo nacionalista de extrema-direita (mas não neonazista) muito citado é os Carecas, que possuem ideologias muito semelhantes as dos Skinheads, sendo então, muitas vezes, considerados um subgrupo destes. Eles pregam a violência contra comunistas, homossexuais, nordestinos, anarco-punks, entre outros grupos.
Entre os atuais partidos e grupos de extrema-direita na Europa, são frequentemente apontados como de tendência neonazista o Freedom Party of Austria (“Partido da Liberdade Austríaco - FPÖ) na Austria; Vlaams Belang (“Interesse Flamengo” - vinculado ao grupo Bloed, Bodem, Eer en Trouw - “Sangue, Terra, Honra e Lealdade”) na Bélgica; o grupo Bloc Identitaire (Bloco de Identidade) na França; Chrysi Avyi (também referido como Golden Dawn - “Amanhecer Dourado”) na Grécia.
· O Surgimento do Neonazismo
I.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial seguiu-se, pela Europa ocidental, um processo intenso de “desnazificação” do continente conduzida pelos governos – inclusive na Alemanha. Esse processo incluía, por exemplo, pesadas políticas educacionais que tinham como objetivo formar os jovens para a sociedade democrática e liberal que se constituía na reconstrução da Europa. No entanto, ao mesmo tempo em que os governos europeus se empenhavam tanto em acabar com a extrema-direita nazista e fascista em suas terras, era de fato necessário reconstruir o continente. Com o clima de tensão se instalando com a Guerra Fria, muitos dos grandes empresários que financiaram o regime nazista escaparam de maiores punições. Além deles, havia também os ex-oficias estrategicamente úteis que por isso foram mantidos em liberdade– como o oficial da SS Klaus Barbie[1], especializado em combater organizações de esquerda. Esse foi um dos fatores que contribuíram para a sobrevivência, ainda que discreta, desses ideais mesmo após a derrota dos principais governos com essa orientação.
Um segundo fator vem do medo inspirado pelo comunismo nas elites nacionais dos países da Europa ocidental com a esquerda forte. Essas elites, durante a Guerra, apóiam o nazismo e contribuem com as invasões em seus próprios países. Após a Guerra, essas elites, assim como toda a força conservadora desses países se reorganizam politicamente em partidos de centro ou centro-direita em oposição à esquerda, mantendo viva a ideologia sob a máscara do anticomunismo.
Além disso, é importante considerar que regimes de caráter fascista se mantiveram mesmo após a guerra em Portugal (com Salazar entre 1932 e 1968) e na Espanha (com Franco entre 1939 e sua morte, em 1975) por meio de negociações com as potências vencedoras. Nesses casos, foram introduzidas pequenas mudanças sem valor real para mascarar o caráter de tais regimes e contribuir com a afirmação da idéia da derrota do fascismo. Esses governos se mantiveram até a década de 70.
Longe de serem os únicos, os fatores citados servem para exemplificar a idéia geral de que os ideais fascistas tiveram meios de se manter mesmo após a Guerra, num mundo extremamente anti-fascista.
II.
Até meados dos anos 70, a Europa vinha vivendo uma época de prosperidade que tem o seu fim com a crise do petróleo. Os países pobres são atingidos por uma onda de revoluções de caráter extremista. A classe média européia, que antes era solidária aos países de terceiro mundo, começa a culpar tais governos extremistas pela tal crise do petróleo que começava a atingir o primeiro mundo. Na segunda metade da década de 70, o sentimento de xenofobia cresce na Europa e é reforçado pela emergência econômica de países como os da Ásia oriental e Brasil, formando uma antes inexistente concorrência econômica com os países europeus.
Em decorrência dessa nova organização política mundial, alguns setores da economia do primeiro mundo deixam de conseguir se sustentar adequadamente com as condições trabalhistas da época. Começa, portanto, uma demanda por mão-de-obra barata que viria na forma de imigrantes vindos do hemisfério sul, o que cria um enorme sentimento de invasão, principalmente entre os cidadãos europeus.
Na década de 80 a situação da Europa declina ainda mais. Os europeus começam a ver sua imagem de prosperidade cair: é uma época de desemprego e incertezas, e o retorno dos conflitos indiretos entre EUA e URSS com o início da fase da Guerra Fria que é freqüentemente referida como “Segunda Guerra Fria” só aumenta o clima de tensão e incertezas em relação ao futuro. Os estrangeiros passam a ser, então, os culpados de tudo – são a válvula de escape de uma sociedade desiludida. São eles que tomam os empregos dos cidadãos europeus, trazem as drogas e a criminalidade para um continente antes tão próspero. Vale ressaltar que por “Europa” e “cidadão europeu” entende-se a Europa ocidental e os cidadãos desses países. Nesse momento, os cidadãos da ex-URSS são tão estigmatizados quanto qualquer estrangeiro.
É nesse contexto que a direita volta a se organizar abertamente na Europa com uma nova bandeira: a xenofobia e o racismo. Os grupos de extrema-direita, incluindo-se aí os neonazistas, também voltam a se organizar como força política. Os cidadãos, perdendo a crença no governo, começam a procurar proteção em outros lugares, e é nessa época (fim dos anos 70 aos anos 90) que crescem as bases dessas organizações e religiões extremistas.
· O Partido Nacional Democrata Alemão
Em novembro de 1964 foi fundado o Partido Nacional Democrata Alemão (NPD), que mantém a ideologia ultraconservadora nacionalista de seu antecessor, o Partido do Império Alemão. É um dos poucos partidos patriotas ainda remanescentes na República Federal Alemã e sua criação teve como base a defesa da reunificação da Alemanha que na época estava ocupada por diversos exércitos estrangeiros. O crescimento do partido foi significativo nos anos 60, mas foi após a reunificação alemã que o NPD conseguiu uma força considerável na parte Oriental, nos territórios da antiga República Democrática Alemã.
O crescimento do partido acompanha o crescimento de movimentos neofascista e neonazistas por toda a Europa, muitas vezes atribuído à crise econômica. Apesar de ter suas ações limitadas pela legislação, o NPD obteve 7,5% dos votos nas eleições de 2006 dando-lhe direito a cinco cadeiras no Parlamento do estado natal da primeira-ministra Angela Merkel. Suas ações têm sido mais frequentes no Leste da Alemanha, onde o desemprego é maior e as acusações de xenofobia são mais frequentes.
Várias organizações políticas se sentiram ameaçadas pelo avanço neonazista pedindo veto ao partido, pedido esse que foi negado pela primeira-ministra. "Não devemos acreditar que conseguiremos resolver o problema do extremismo de direita vetando um partido", disse Merkel. O Partido Verde alemão e o SPD consideram inaceitáveis os avanços alcançados pelo NPD e acreditam que “essa indignação tem que continuar, não pode ser algo passageiro", destacou Bütikofer, presidente nacional do PV.
Os ministérios alemães trabalham numa tentativa de combater o extremismo de direita, principalmente com o público jovem, que é um dos principais alvos de grupos neofascistas e neonazistas.
· Manifestações Neonazistas
Com os ideais neonazistas divulgados em vários sites na Internet, em textos, imagens, poesias e até músicas, é cada vez maior o número de adeptos dessa ideologia, não só na Alemanha e na Europa, mas no mundo em geral. Podemos observar isso em desde crimes envolvendo xenofobia, perseguição, vandalismo e vários outros tipos de violências físicas e verbais até nas passeatas do NPD e outros partidos neonazistas. Essas manifestações recebem cada vez mais atenção da mídia.
As manifestações e passeatas ocorrem em sua maioria em feriados (como no 1º de Maio, dia dos Trabalhadores) o que muitas vezes é visto como provocação aos partidos de esquerda. Ou então em datas como o 14 de fevereiro, o chamado “Dia da Honra”, quando as tropas alemãs e húngaras tentaram romper as linhas da capital húngara, então ocupada pelo exército da União Soviética. Tais protestos e homenagens sempre vêm acompanhados da presença de contra-manifestantes exaltados e acabam envolvendo a polícia.
Mas se por um lado grande parte da população considera essas passeatas ofensivas, não há como proibi-las sem que haja veto da liberdade de expressão, assim como não há como censurar o NPD (apesar de várias pessoas apoiarem essa idéia). Logo, desde que não haja manifestação violenta com violação das leis, não há o que fazer. Por mais que a polícia interfira nos casos de crimes neonazistas já citados, não há como banir da internet o material de divulgação, nem como impedir as pessoas de acessarem esses conteúdos.
Bibliografia consultada:
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Nacional_Democrata_Alem%C3%A3o
· http://pt.metapedia.org/wiki/NPD
· http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/partido-neonazista-cresce-e-preocupa-a-alemanha/
· http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2177637,00.html
· http://www.artigos.com/artigos/humanas/historia/os-jovens-e-o-neo_nazismo-5315/artigo/
· http://www.firs.org.br/artigos/crise-acelera-avanco-neonazista-165.aspx
· http://www.derechos.org/nizkor/brazil/libros/neonazis/cap4.html
· http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/333/300
· http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/artg6-12.pdf
· http://www4.fapa.com.br/monographia/artigos/2edicao/artigo07mg2.pdf
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Klaus_Barbie
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Salazar
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Franco
· http://amandoaoproximo.blogspot.com/2008/05/o-neonazismo-no-brasil.html
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Neonazismo
· http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/historianeonazismobrasil.html
· http://pt.wikipedia.org/wiki/Skinhead
· http://en.wikipedia.org/wiki/Neo-Nazism
Klaus Barbie foi um oficial da SS conhecido por sua brutalidade ao torturar os prisioneiros. Tornou-se, após a guerra, agente do serviço secreto norte-americano após ser condenado à morte na França. Viveu na Bolívia a serviço da ditadura do General Luis Garcia Meza. Foi julgado e condenado a prisão perpétua em 1983, novamente na França.
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